Páginas

quarta-feira, 7 de abril de 2010

:: Lenny ::


:: LENNY ::
de Bob Fosse
(1974)

-- por Du Pitomba --

O lugar assegurado pelo cineasta Bob Fosse no pergaminho cinematográfico sempre deveu-se ao seu ardor em renovar as coreografias, e sobretudo também ao agraciado “Cabaret” (1972) - molde supremo da persona estelar de Liza Minelli. Justiça seja feita, se é para entornar seu talento, temos que escapar um pouco dos bailados frenéticos, indo parar nas coreografias das almas - e neste quesito, o pensamento fica acoplado na biografia do comediante judeu Leonard Alfred Bruce, “Lenny” (1974).

Se o principal instrumento de um piadista é sua voz, a de Lenny Bruce (Dustin Hoffman) é a palavra vulgar, ou o popular ‘palavrão’. Tanto que a presença policial nas suas apresentações eram dadas como certeiras. Os guardas de plantão já tinham programa quando o artista estava na ribalta. Sua vida íntima não foi menos escandalosa, casando-se com a stripper de codinome açucarado ‘Honey’ (Valerie Perrine).

Olhando sobre vários ângulos, podemos observar que tanto um especialista em cinema quanto um menos munido leigo terão sua atenção tomada pela presença cênica de Hoffman, e podemos ainda inferir como “Lenny” se faz típico exemplo de filme de personagem. Entretanto ressaltemos que este típico tem de ser encarado como vendagem e catalogação da obra e nunca como acabamento formal desta, visto que sua corporificação carrega ricas camadas e enfrentamentos.


Têm-se a idéia viciada de vincular estas atuações com o termo composição do personagem (ainda mais neste projeto). Retrato de vida real, o filme é engendrado por um ator que insere-se e ,por fim, contribui com os métodos stanislaviskanos filtrados pela Broadway. Sendo assim, o melhor termo talvez seja a antítese do verbete, decomposição do personagem. Hoffman vai se degradando fisicamente ao longo de sua saga regada à sexo, drogas e holofotes; chega a criar a hipótese de Lenny detestar sua platéia. Os palavrões das piadas podem ser travestidos de insultos para quem o vê. O que vemos é um personagem suicida artisticamente, já que põe em xeque sua profissão e seu público.

O planejamento fotográfico de Bruce Surtees não deixa o protagonista em paz. Nas suas performances noturnas o preto e branco derramado nas casas de espetáculo deixa em evidência sua solitária figura. Na cena mais densa, Lenny obriga sua esposa a fazer sexo com outra mulher, ficando visível ao espectador somente a face dos envolvidos. Um verdadeiro jogo de máscaras que toma emprestado foros bergmanianos. Pensando no crepúsculo dos pop stars da virada do 60 para 70, a única apresentação esperada de Lenny foi sua morte, o clássico fim de overdose. Somente nu no chão do banheiro ele foi previsível.

Um comentário:

  1. Grande filme. Escrevi sobre ele aqui:

    http://pt.shvoong.com/entertainment/movies/2324353-lenny/

    ResponderExcluir